Em entrevista à BBC Brasil, cirurgião plástico justificou operação devido às 'deformidades faciais' de Nadia Ilse.
O pesadelo da estudante Nadia Ilse, de 14 anos, tinha hora certa para começar: toda manhã, assim que entrava na escola, em Cumming, no Estado americano da Geórgia, a adolescente era vítima dos mais diferentes tipos de chacotas de seus colegas de classe, devido, principalmente, à sua aparência.
Chamada de "Dumbo" por suas orelhas de abano desde que tinha sete anos, Nadia chorava copiosamente no trajeto da escola à sua casa e à noite antes de dormir.
Nadia Ilse,
antes e depois da cirurgia. (Foto: Little Baby Face Foundation / BBC)
O
bullying era tão nocivo à autoestima de Nadia que ela tinha vergonha de se
olhar no espelho e chegou até mesmo a pensar em suicídio. "Eu me sentia
horrível e suja (...) Muitas vezes inventava desculpas para faltar as aulas,
como dor de estômago", afirmou Nadia em entrevista à imprensa americana.
Mas,
em casa, a menina escondia sua tristeza para não afetar a mãe, que tinha sido
demitida havia pouco tempo e que precisava cuidar do irmão, Joshua, de nove
anos, que sofre de paralisia cerebral.
Quando
soube pelo que a filha passava, porém, Lynda ficou chocada e decidiu procurar
ajuda.
Sem
ter condições de custear por conta própria uma operação para a adolescente,
Lynda recorreu à Little Baby Face Foundation, uma ONG sediada em Manhattan, em Nova York, que faz
cirurgias gratuitas em crianças que possuem deformações faciais.
Atendida
por Thomas Romo III, presidente da entidade e chefe do setor de cirurgia
plástica facial do hospital Lenox Hill, em Nova York, Nadia foi operada em
junho passado. A cirurgia, que custou o equivalente a US$ 40 mil (R$ 80 mil),
foi feita de graça.
Críticas
"Quando
Nadia chegou aqui, ela tinha deformações faciais graves, como orelhas de abano,
além de desnivelamentos no queixo e no nariz", explicou Romo à BBC Brasil.
"Eu decidi operá-la não porque ela sofria bullying, mas porque ela
apresentava tais deformações", acrescentou.
"No
fim das contas, eu só soube que ela sofria tal tipo de chacota ao conversar com
a mãe dela, depois que elas deram entrada no pedido da operação. O bullying,
assim, ficou em segundo plano, porque a Nadia tinha problemas que necessitavam
de procedimento cirúrgico", afirmou.
"Fui
criticado porque muitas pessoas desconheciam o processo seletivo e acreditaram
que eu havia operado Nadia exclusivamente por causa do bullying", disse.
Questionado
se acredita que qualquer criança vítima de bullying deve recorrer a uma
cirurgia para levantar a autoestima e livrar-se do problema, Romo disse que
"depende de cada situação. Muitas vezes, a criança é vítima de assédio
moral porque tem algum tipo de deformação física visível. Em outros, não. Para
todos os casos, é recomendável um bom diagnóstico e, claro, acompanhamento
psicólogo".
O
caso de Nadia, que foi apresentado ao público americano através de uma
reportagem na rede de TV CNN, lançou um debate no país sobre a melhor resposta
a casos de bullying e se, no caso dela, a operação plástica foi mesmo
necessária.
Vários
especialistas argumentam que jovens vítimas de bullying, em vez de recorrer à
plástica, deveriam ser ajudados para aprender a lidar com as provocações ou
chacotas alheias.
Seja
como for, segundo Romo, pelo que ouviu recentemente, Nadia está "muito
confiante de sua imagem".
A
menina voltou a usar os cabelos presos, algo que não fazia há muito tempo, por
exemplo.
Romo
destacou que a Little Baby Face Foundation recebe inscrições de crianças com
deformidades faciais de todo o mundo. Além de pagar pela cirurgia, a entidade,
segundo ele, financia a viagem e os custos relativos à internação dos pacientes
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