A doença celíaca faz parte da
categoria de patologias autoimunes, em que os anticorpos atacam o organismo em
vez de defendê-lo. Indivíduos com a enfermidade não toleram a ingestão de
glúten - proteína encontrada
no trigo, aveia, cevada, e centeio.
Levantamento feito por pesquisadores
Universidade de Witwatersrand, na África do Sul, e da Universidade de Umea, na
Suécia, indica que 42 mil crianças morram
todos os anos por causa da doença. É responsável ainda por 4% de toda a
mortalidade infantil por diarreia. No Brasil, o percentual é menor.
O consumo de alimentos que
contenham glúten desencadeia um processo inflamatório no intestino delgado dos
celíacos e, consequentemente, prejudica a absorção dos nutrientes, vitaminas e
sais minerais.
“Os sintomas básicos da doença
francamente instalada são diarréia, dores abdominais, flatulência,
emagrecimento e anemia provocados pela dificuldade de absorção de nutrientes,
explica o coordenador de pesquisa do Serviço de Gastroenterologia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Heitor Souza.
Estima-se em 892 mil o número de brasileiros com a
doença. O diagnóstico é feito através de um exame de sangue ou de uma
endoscopia digestiva seguida de biópsia. Geralmente se manifesta na infância,
mas, em determinados casos, aparece somente na idade adulta.
“A avaliação sorológica do sangue é bastante
eficaz, a sensibilidade e a especificidade são superiores a 95%. Se o resultado
for positivo é possível afirmar, sem sombra de dúvidas, que o indivíduo é
celíaco. E vice-versa. Mas este não é um teste barato, está disponível há cerca
de 15 anos e nem sempre dá para fazer na rede pública”, diz o especialista.
Não há cura definitiva. A terapia consiste na
eliminação total do glúten da dieta e deve ser seguido rigorosamente para
evitar o retorno dos sintomas e permitir a regeneração da área afetada.
"“Medicações para minimizar os sintomas podem até ser usadas, mas não
resolvem o problema”, avalia Heitor, que não indica o uso de imunossupressores.
“É uma possibilidade para casos raríssimos e muito graves. Mas os riscos
inerentes a este tipo de tratamento são maiores do que os da própria doença”,
conclui.
A dificuldade para comer fora de casa e o preço
elevado dos alimentos sem a substância são as maiores dificuldades do
tratamento. É o que relata a estudante Luisa Fernandes, 23, que recentemente
descobriu a doença e ainda se adapta às novas necessidades.
“No início é mesmo complicado, porque as opções
ficam muito reduzidas. No meu caso, por exemplo, cortar o pão da minha
alimentação foi a parte mais complicada. Costumo tomar café da manhã e comer o
lanche da tarde fora de casa, e são poucos os lugares em que você pode comprar
uma salada de frutas, por exemplo. Além disso, as comidas sem glúten são muito
mais caras. Agora gasto cerca de R$ 10 com um pacote de pão adequado para a
minha dieta. O jeito é andar sempre com comida na bolsa, especialmente frutas”,
conta Luisa.
“A melhor forma é encarar a dieta como uma
oportunidade de fazer uma reeducação alimentar, já que, na prática, você vai
gastar muito mais tempo para comer, seja lendo rótulos atrás de rótulos nos
mercados ou preparando lanches para levar consigo para onde for”, conclui.
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