Fazia tempo - pelo
menos 30 anos - que os agricultores do semi-árido da Paraíba não sentiam de
maneira tão perversa os efeitos de uma seca, a maior das últimas três décadas
O cenário não é
inédito: longa estiagem, falta d’água, rios e pastos secos, famílias sem ter o
que comer e animais morrendo de fome e sede, sendo deixados para trás,
transformando a paisagem num cemitério a céu aberto. Mas fazia tempo - pelo
menos 30 anos - que os agricultores do semi-árido da Paraíba não sentiam de
maneira tão perversa os efeitos de uma seca, a maior das últimas três décadas.
No meio de tanta
dificuldade, as famílias que vivem diretamente os efeitos da estiagem contam
com o apoio do poder público, instituições e até mesmo pessoas físicas que
trabalham com ações de combate à seca. Uma dessas pessoas é o padre Djacy
Brasileiro, que comanda a paróquia da cidade de Pedra Branca (localizada a 438
km de João Pessoa). Padre Djacy acompanha diariamente o drama de muitos sertanejos
e amplia seu grito de socorro por meio de relatos e fotos que posta em redes
sociais.
Foto: Seca na Paraíba
Créditos: Foto: Padre Djacy Brasileiro
Créditos: Foto: Padre Djacy Brasileiro
Sem água e capim
para dar aos ovinos e bovinos, os pequenos criadores estão vendendo os animais,
que perdem valor comercial graças ao baixo peso. Marcos Ferreira mora na zona
rural da cidade de Cabaceiras ( localizada 180km de João Pessoa). O municipío
conhecido nacionalmente como a 'Roliúde Nordestina', devido os mais de 20
filmes produzidos, como o Auto da Compadecida, tem o menor índice pluviométrico
da Paraíba. Na semana passada, Ferreira vendeu um bovino por R$ 100. Em
outra época, com o animal bem alimentado e com peso satisfatório, seu custo
poderia chegar a R$ 1.200.
Créditos: Foto: Padre Djacy Brasileiro
“Há meses que o
mato está completamente seco. A gente anda pelas terras e encontra carcaças de
bois e vacas espalhadas por todo canto. Não tem comida pra dá aos animais. O
caso está grave”, lamenta Marcos Ferreira.
Foto: Seca na Paraíba
Créditos: Foto: Padre Djacy Brasileiro
Créditos: Foto: Padre Djacy Brasileiro
Sem dinheiro para
alimentar os animais que ainda restam no pasto seco, os agricultores do
semi-árido – que compreende 75% do território paraibano – depende do Governo do
Estado, que distribui ração aos pequenos produtores. “O Estado distribui, mas
não dá. São apenas alguns quilos para cada criador”, informou o padre Djacy.
Ele disse que o produto é vendido no comércio das pequenas cidades, mas que é
inacessível para a maioria dos pequenos produtores, cuja única fonte de renda
que sobrou é do Bolsa Família, programa do Governo Federal.
Créditos: Foto: Padre Djacy Brasileiro
De acordo com a
Secretaria de Infraestrutura do Estado, que coordena o Programa de Distribuição
de Ração Animal, já foram distribuídas mais de 10 mil toneladas de ração
animal e até o final deste ano outras nove toneladas serão entregues para 20
mil pequenos agricultores.
Água virou raridade
Para a maioria dos
sertanejos paraibanos, água se tornou um produto raro. Tomar banho, lavar as
roupas e aguar as plantas se tornaram sonhos que eles esperam um dia realizar.
A realidade, hoje, é da busca constante por água para satisfazer necessidades
mais imediatas, como beber, cozinhar e matar a sede dos animais.
Cento e nove carros
pipas estão atendendo as cidades mais atingidas pela estiagem. A água é
aguardada com ansiedade e cada gota é bastante disputada. De acordo com
informações do Comitê Integrado de Combate à Seca na Região do Semi-Árido
Brasileiro, a distribuição de água potável está sendo feita pelo Exército
Brasileiro, com ajuda do Governo do Estado.
Mais de oito mil
cisternas de placa (para consumo humano) deverão ser construídas em 72 cidades
paraibanas a partir de janeiro de 2013. Conforme o gerente de apoio a programas
governamentais do Estado, Luiz Lianza, o processo está em fase de
cadastramentos das famílias. “Ao todo serão investidos mais de R$ 15
milhões e os recursos são fruto de uma parceria entre os governados federal e
estadual”, acrescentou Lianza.
Bolsa Estiagem
Num período onde
cada centavo é necessário para garantir a sobrevivência das famílias atingidas
pela seca, os pequenos produtores sofrem com um outro problema grave: a
ignorância. De acordo com a delegada federal do Ministério do Desenvolvimento
Agrário (MDA) na Paraíba, Giucélia Figueiredo, 78 mil agricultores dos 195
municípios paraibanos em estado de emergência foram beneficiados com o programa
“Bolsa Estiagem”. Entretanto, uma grande parte não foi ao banco sacar o valor.
Créditos: Foto: Padre Djacy Brasileiro
A delegada fez um
apelo para que os beneficiários do programa ‘Bolsa Estiagem’ vão retirar o
dinheiro que está retido na Caixa Econômica Federal. “Cada agricultor
cadastrado foi beneficiado com R$ 400, divididos em cinco parcelas e muitos que
tiveram as parcelas depositas na Caixa nunca foram retirar o dinheiro”,
informou a delegada.
A par da gravidade
da situação vivida em mais de dois terços dos municípios paraibanos, Giucélia
Figueiredo disse que o Bolsa Família (e o Bolsa Estiagem) são os únicos meios
de sobrevivência que restam a esses agricultores. Para ela, são esses programas
que têm permitido que haja tranqüilidade, mesmo diante de um cenário tão desanimador.
“Se não fossem esses programas federais já tinha havido saques em supermercados
em várias, como já tivemos no passado”, completou.
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