Osel Hita
Torres em foto recente... (Foto: BBC)
Quando
tinha apenas dois anos, o espanhol Osel Hita Torres foi identificado como a
reencarnação de um venerado lama budista tibetano.
Trancafiado
em um monastério budista na Índia durante toda a infância, ele decidiu, quase
duas décadas depois, abandonar seu 'destino sagrado' e retornar ao seu país
natal, onde vive confortavelmente no litoral de Ibiza como professor de uma
escola primária.
As
fotos antigas ajudam Osel a reconstruir um passado não muito distante, a
quilômetros de distância de onde nasceu.
Elas
mostram uma criança pequena, usando vestidos e um chapéu amarelo, à frente da
qual homens já adultos ajoelhavam-se pedindo benção.
Nenhum
ato de afeição era permitido a menos que Osel se prontificasse a receber
carinho. Ele tinha, até mesmo, seus próprios talheres.
... e, na
infância, como lama (Foto: BBC)
Questionado
se sua condição 'especial' não lhe permitia 'tirar vantagem' ou, às vezes,
'agir de maneira inapropriada', o espanhol é assertivo: 'Sim, claro.'
'Eu
era um fedelho tirano e desagradavelmente mimado. Eu também era muito mandão',
disse.
Até
para os padrões tibetanos, Osel foi entronado muito jovem - e ele não era nem
tibetano e, sim, espanhol.
Atualmente
morando na casa sua mãe, à beira da praia de Ibiza, no litoral mediterrâneo da
Espanha, Osel tem 27 anos e não é mais um lama.
Ele
decidiu abandonar o rigor da vida no monastério para tocar tambor na praia e
curtir um pouco de trance. Osel não sabe dizer se ainda se sente um budista.
Por
causa de sucessivas experiências malsucedidas com a imprensa, Osel quase nunca
dá entrevistas.
Mas,
com um jeito calmo e sedutor, ele gosta de filosofar sobre sua extraordinária
história.
Do Tibete à Disneylândia
Osel nasceu em Granada, o quinto filho de Maria Torres.
Maria
converteu-se ao budismo, tornando-se seguidora de Thubten Yeshe, um carismático
e extrovertido lama tibetano que viajou ao Ocidente na década de 1970.
Yeshe,
entretanto, não era um lama tradicional. Ele chegou a visitar a Disneylândia e
declarava-se um apaixonado pela cultura ocidental.
Tal
característica acabou por atrair discípulos dos mais variados países do
Ocidente. Alguns acreditavam que ele conseguia ler mentes.
Mas
Yeshe tinha problemas no coração e morreu em 1984 em um hospital de Los
Angeles, aos 49 anos.
Com
sua morte, seus seguidores se dispersaram. Alguns meses depois, Maria ficou
grávida de Osel.
No
budismo tibetano, os lamas são aqueles que alcançaram um alto nível de
iluminação, capazes de escolher o que acontece após sua morte - se querem ou
não ser reencarnados e, em caso afirmativo, onde.
Entre
os seguidores de Yeshe e seus antigos colegas, cresceu com sua morte a
convicção de que ele havia reencarnado na Espanha, no pequeno Osel. A convicção
se baseava em sinais como semelhanças entre a maneira de agir de Osel e Yeshe e
também ao fato de um bebê como Osel ter aparecido nos sonhos de outro lama.
Osel
foi, assim, levado a Índia para ser testado, onde ele recebeu os pertences do
Lama Yeshe, como seus óculos escuros. O próprio Dalai Lama confirmou que Osel
era a reencarnação do Lama Yeshe.
Monastério indiano
O menino passou a morar em um monastério no sul da Índia e tinha pouco contato
com seus pais. Apesar de tudo, Osel não guarda ressentimentos.
'Para
eles, não era algo negativo; tratava-se, na prática, de uma grande oportunidade
que eles estavam dando a um menino, como ir às Universidades de Yale ou
Oxford', contou Osel.
'Era
um motivo para celebrar', explicou Maria, sua mãe. 'Eu me senti muito especial,
pelo fato de ele ter me escolhido para ser sua mãe. Pensei que não teria mais
sofrimento durante a minha vida por causa disso. Queria compartilhar meu filho
com o resto do mundo, porque ele não era o meu filho.'
Osel
diz que começou a se incomodar com seu status no fim da infância e início da
adolescência. Aos nove anos, mandou uma fita cassete para seus pais, pedindo
para voltar à Espanha.
Em
vez disso, seu pai, Paco, foi viver com ele no monastério; seu irmão mais
jovem, Kunkyen, também foi e se tornou monge.
Mas,
quando tinha entre 16 e 17 anos, Osel diz que 'morria de vontade de sair' de
lá. O ponto de virada foi quando ele leu a obra 'Siddharta', de Herman Hesse, e
começou a questionar se de fato era um verdadeiro budista.
Desistiu
deixar o monastério aos 18 anos, mas foi inundado por pedidos de seus
seguidores pedindo para que ele voltasse e alegando que se tratava do seu
destino. Com apoio de sua mãe, manteve sua decisão.
Nova vida
A vida fora do monastério pareceu a princípio assustadora para Osel. Ele chegou
a estudar no Canadá, mas depois mudou-se para Madri para estudar cinema, com o
objetivo de virar um documentarista. Seus gostos musicais são ocidentais:
reggae, drum-and-bass, trance, hip-hop.
Mas,
na Fundação pela Preservação da Tradição Mahayana (FPMT), ele ainda é visto
como um mestre, algo que tenta conciliar. Osel e Kunkyen também participaram de
um álbum que combina cantos tibetanos com música trance ocidental.
Seu
futuro, preso entre duas culturas e tradições diferentes, é incerto. Ele mora
em Ibiza, mas o espanhol é apenas a sua terceira língua, após tibetano e
inglês. Osel já deu aulas de tibetano e, no momento, não tem um emprego fixo,
mas está produzindo um documentário para a FPMT e não descarta liderar a
organização no futuro.
'Talvez
eu seja apenas o coordenador', diz ele, em referência à organização budista.
'Não espiritual. Não sei, quem sabe um dia. Aos poucos estou me interessando
pelo budismo.'
Maria,
por sua vez, segue dedicada à religião budista e crê que seu filho é o lama
reencarnado, ainda que não um lama 'tradicional'.
Osel
também acredita na reencarnação, mas não está certo de que ele próprio seja um
deus reencarnado.
Questionado
se, às vezes, se sente como o lama Yeshe, Osel responde: 'Sim, às vezes, e peço
que ele me mande uma mensagem ou um sinal. E, muitas vezes, ele me manda.
Então, não sei se ele está dentro ou fora (de mim). Não sei, mas ele é um dos
meus melhores amigos.'
Osel nasceu em Granada, o quinto filho de Maria Torres.
O menino passou a morar em um monastério no sul da Índia e tinha pouco contato com seus pais. Apesar de tudo, Osel não guarda ressentimentos.
A vida fora do monastério pareceu a princípio assustadora para Osel. Ele chegou a estudar no Canadá, mas depois mudou-se para Madri para estudar cinema, com o objetivo de virar um documentarista. Seus gostos musicais são ocidentais: reggae, drum-and-bass, trance, hip-hop.
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