segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Mãe 'era rigorosa' com adolescentes achadas mortas, diz delegado

Bilhete em geladeira tinha programação de tarefas e punições.
Para polícia, mãe ‘surtou’, matou as filhas e depois tentou se matar.
Quadro com tarefas destinadas a cada uma das adolescentes (Foto: Marcelo Mora/G1)
Depoimentos e bilhetes localizados pela Polícia Civil apontam que a mãe suspeita de matar duas adolescentes em São Paulo era considerada rigorosa, segundo a avaliação da Polícia Civil. As adolescentes Paola Knorr Victorazzo, de 13 anos, e Giovanna Knorr Victorazzo, de 14 anos, foram achadas mortas na casa onde elas moravam com a mãe, no Butantã, na Zona Oeste de São Paulo.

Segundo a polícia, bilhetes encontrados na porta da geladeira mostravam a programação das tarefas de cada uma das garotas com a respectiva punição em caso de o dever não ser cumprido por uma delas. Dentre as punições, estão a proibição de utilizar a internet por um determinado período e a não permissão para sair de casa para passear.

“O que a gente tem é que parece que ela era bastante rigorosa com os filhos, principalmente pelos bilhetes que encontramos na porta da geladeira da casa”, afirmou Gilmar Contrera, delegado titular do 14º distrito de polícia, em Pinheiros, também na Zona Oeste da capital.

As características são de quem surtou, matou o cachorro e as filhas e depois caiu na real. Daí, tentou se matar, abrindo o gás, mas não conseguiu, porque os filhos chegaram a tempo"

Gilmar Contrera,
delegado titular do 14º DP
Para ele, apesar de as investigações estarem apenas no início, a mãe das adolescentes, a principal suspeita pelo duplo homicídio, teria tido “um surto”. “As características são de quem surtou, matou o cachorro e as filhas e depois caiu na real. Daí, tentou se matar, abrindo o gás, mas não conseguiu, porque os filhos chegaram a tempo”, disse o delegado.

Uma filha e um filho da suspeita de um casamento anterior,, além do pai das adolescentes, já foram ouvidos pela polícia. “A filha (mais velha) não percebeu  nenhum sintoma mais grave na mãe. Elas se falavam todo dia. Na sexta-feira, ela disse que ligou, mas a mãe não atendeu. No sábado, ligou para o irmão e foram até a casa da mãe. Eles chamaram, mas ninguém atendeu. Parece que o irmão ouviu a voz da mãe dentro da casa, mas não entendiam o que ela estava falando. Eles foram até a vizinha e pediram para pular o muro. Ao chegarem perto da porta, sentiram o cheiro de gás. Decidiram então chamar os bombeiros, que vieram e arrombaram a porta. O irmão subiu no quarto e encontrou os corpos das adolescentes”, relatou Contrera.

O depoimento da mãe das jovens deverá ocorrer nesta quarta-feira (18), caso ela receba alta do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (USP). “A previsão de alta é para quarta-feira, mas precisamos esperar para saber se ela terá condições de ser ouvida aqui ou no hospital mesmo”, explicou. Apenas após o depoimento dela, outras testemunhas deverão ser chamadas para serem ouvidas no inquérito.

Segundo o delegado, a mãe respondeu a quatro processos por estelionato, sendo que um foi extinto, outro suspenso e dois estão em aberto – estes de 1997 e 1998. Além disso, ela respondeu também por maus-tratos, mas a punibilidade deste caso, de 2002, foi extinta. "Provavelmente, porque não se comprovou o mau-trato ou então ela não foi a autora", esclareceu Contrera.

Enterro
Os corpos das adolescentes foram enterrados às 15h30 desta segunda-feira (16) em um cemitério de Taboão da Serra, na Grande São Paulo. O advogado do pai das adolescentes, José Paulo Arruda, disse que a família paterna não vai se manifestar em razão da dor e das investigações. “Por ora, não faremos nenhuma manifestação, vamos aguardar o término do inquérito”, afirmou.

O empresário Marco Antônio Victorazzo, pai das adolescentes, esteve nesta segunda-feira no Instituto Médico-Legal (IML) para reconhecer os corpos e cuidar dos documentos para o enterro. Muito abalado, ele não conversou com os jornalistas. Ele foi ouvido pela polícia, mas, por estar muito abalado, pouco ajudou a esclarecer, segundo o delegado.

As adolescentes foram achadas mortas na tarde de sábado (14). A mãe delas, uma corretora de imóveis de 53 anos, é apontada como suspeita de ter cometido os crimes. Após confessar o crime a policiais militares, a mãe foi detida em flagrante e levada para o hospital da Universidade de São Paulo, onde seguia internada sob efeito de tranquilizantes nesta segunda.
Na tarde de domingo (15), ela chegou a passar por uma avaliação psiquiátrica no Pronto-Socorro da Lapa. No dia em que as mortes foram descobertas, a corretora de imóveis foi encontrada deitada no chão da sala da casa.

De acordo com o hospital, a corretora passará por um novo exame psiquiátrico nesta segunda-feira. Ainda não há previsão de quando ela receberá alta. O depoimento dela é aguardado pela 14º Distrito Policial, em Pinheiros, que investiga o caso.

Pichação e vizinhos
Nesta manhã, a casa da família tinha uma parede pichada com a frase "Não existe amor em SP". Vizinhos se mostraram chocados com o crime. "Não dá para acreditar. É uma pessoa aparentemente muito normal, muito mãe, muito zelosa com as filhas", diz a vizinha Nanci Petrus.
O colégio onde as garotas estudavam não teve aulas nesta manhã.

O crime
De acordo com o boletim de ocorrência, policiais militares foram chamados para atender ocorrência de vazamento de gás na casa na Rua Doutor Romeu Ferro, na Vila Gomes. Ao chegarem ao local, eles encontraram uma equipe do Corpo de Bombeiros.

As adolescentes Paola e Giovanna Knorr Victorazzo foram encontradas deitadas cada uma delas em um beliche, em um quarto bastante revirado e com fezes de animais, no andar superior da residência, na Rua Doutor Romeu Ferro. No box do banheiro desse cômodo, um cachorro foi encontrado morto com um saco plástico amarrado na cabeça. A mãe das garotas, que estava deitada na sala, tinha cheiro de gasolina.

Segundo a Polícia Militar, não havia sinais de arrombamento no imóvel e as garotas já estavam mortas provavelmente havia dias em razão do estado dos corpos. A perícia do local foi requisitada e os corpos foram encaminhados para exame necroscópico no Instituto Médico-Legal (IML). O resultado dos exames devem ser divulgados em até 30 dias.


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