Um cardeal figura entre as pessoas que
vazaram documentos secretos da Santa Sé e teria sido o responsável por
manipular Paolo Gabriele, o mordomo do Papa Bento 16 detido na quarta-feira,
que seria apenas um executor, indicou nesta segunda-feira a imprensa italiana.
"Um cardeal guiou o 'corvo' (a
pessoa que vazou os documentos)", era a manchete do jornal romano "Il
Messaggero", enquanto o grande jornal milanês "Corriere della
Sera" afirmou que havia "um cardeal entre os informantes
anônimos".
A guarda do Vaticano prendeu Gabriele e
encontrou documentos confidenciais em sua casa, aproximadamente um mês depois
da criação de uma comissão de investigação para esclarecer as indiscrições que
desde janeiro afetam o pequeno Estado.
LIVRO
Um livro publicado há oito dias na
Itália contém um número sem precedentes de documentos confidenciais sobre
numerosos debates internos do Vaticano, como a situação fiscal da Igreja ou os
escândalos de pedofilia dentro do movimento dos Legionários de Cristo.
Estes documentos revelam as disputas e
rancores que existem entre diversos cardeais e autoridades, que acusam uns aos
outros e depois recorrem ao Papa para dirimir os conflitos.
Um dos informantes anônimos,
interrogado pelo periódico "La Repubblica", considera que a pessoa
que organizou os vazamentos "atua em favor do Papa".
"O objetivo dos autores anônimos é
revelar a corrupção que exise na Igreja nos últimos anos", segundo esta
fonte.
"Os verdadeiros cérebros são os
cardeais. E depois há monsenhores, secretários e peixes menores",
acrescentou.
FRACO
PARA GOVERNAR
Entre os infiltrados, "estão os
que se opõem ao cardeal secretário de Estado Tarcisio Bertone, os que pensam
que Bento 16 é muito fraco para dirigir a Igreja, e os que acham que é o
momento oportuno para se destacar", disse a mesma fonte anônima.
Segundo esta pessoa, citada pelo
"La Repubblica", o Papa sentiu muito a destituição na quinta-feira do
presidente do banco do Vaticano IOR, Ettore Gotti Tedeschi, a quem apreciava
muito, até o ponto de começar a chorar, passando a reagir com raiva, dizendo
que "a verdade virá à tona".
Gotti Tedeschi foi destituído por sua
gestão, mas também, segundo fontes vaticanas, porque havia divulgado fora do
Santa Sé alguns documentos relativos ao banco.
Segundo os especialistas italianos em assuntos
vaticanos citados pela imprensa, o mordomo Paolo Gabriele, um homem que sempre
se mostrou muito apegado ao Papa, não parece ser capaz de organizar sozinho o
vazamento coordenado de documentos, batizado de "Vatileaks".
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