Neste domingo, 1º de abril, comemora-se o dia da
mentira. A origem do costume é controversa, mas a teoria mais aceita é de que
começou na França, em 1564, quando o rei Carlos IX determinou que o Ano Novo
passaria a ser celebrado em primeiro de janeiro. Até então, os festejos
ocorriam entre 25 de março e 1º de abril e marcavam a chegada da primavera. A
mudança, porém, não foi bem recebida por parte da população, que recusou-se a
mudar seus hábitos e virou alvo de gozação. Não demorou muito e a brincadeira
tornou-se global.
Atualmente, até mesmo sites jornalísticos com
grande credibilidade divulgam notícias falsas para pregar peças em seus
leitores. A explicação, é claro, é dada. No entanto, aqueles que não têm
paciência para chegar ao fim do texto aceitam completos absurdos como se fossem
verdades. Mas, além de uma boa oportunidade para fazer piadas com os amigos, a
data suscita o debate: até que ponto as mentiras são aceitáveis?
O professor do departamento de psiquiatria da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e médico do Hospital
Universitário Pedro Ernesto, Miguel Chalub afirma que há dois tipos de mentira:
a por conveniência - que seria a "do dia a dia" -, e a compulsiva,
esta sim fruto de um transtorno comportamental.
"O que a define é a total falta de
necessidade. Como alguém que se atrasa poucos minutos para um compromisso
e inventa uma grande história para se justificar. A situação não traria
qualquer consequência negativa, mas a pessoa não consegue falar a
verdade", exemplifica o especialista, que também trabalha na Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) . A insegurança é apontada por Chalub
como a principal característica do mentiroso compulsivo. "Adotam um
discurso de autopromoção porque creem que não serão aceitos ou respeitados caso
não se mostrem importantes", constata.
Há, no entanto, casos ainda mais graves. Pessoas
que sofrem de um distúrbio psiquiátrico chamado mitomania envolvem-se de tal
forma em suas mentiras, que passam a vislumbrar o cenário que criaram como
parte da realidade. "É um comportamento doentio. Precisam dessas mentiras
para viver. Como forma de sustentar uma falsa viagem a Nova York, por exemplo,
buscam diversas informações sobre a cidade e acabam fantasiando que, de fato,
estiveram lá. São capazes de inventar situações e descrever locais em
detalhes", diz o psicólogo Paulo Coletty, do Hospital Universitário
Clementino Fraga Filho, da UFRJ.
Afastamento
Por mais convincente que seja o mentiroso, a
tendência é que pequenos deslizes tragam a verdade à tona. E, embora a frase
seja um grande clichê, é impossível negar que a base de qualquer relacionamento
é a confiança. Uma vez desmascarados, explica Coletty, os mentirosos
compulsivos desenvolvem alguns mecanismos de defesa. O primeiro deles é tentar
atenuar a mentira, mas, na maioria das vezes, isto é feito com outra. O segundo
é fazer crer que são os outros que estão mentindo. O terceiro é o afastamento.
"A mentira corrói as relações humanas. Os
mentirosos compulsivos não costumam ter muitas amizades, já que a tendência é
as pessoas se afastarem com o passar do tempo. Então, eles buscam novos grupos
em que possam se inserir e procuram denegrir a imagem dos antigos amigos",
conclui.
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