segunda-feira, 23 de julho de 2012

Operadoras oferecem mais linhas do que podem operar, para aumentar os lucros


A má qualidade dos serviços das operadoras de celulares pode estar ligada ao mesmo motivo que as fazem lucrar  com o marketing do ranking das maiores e mais vendidas: o excesso de vendas de chips. Muitas destas "linhas" de celulares, segundo Thiago Nunes da Costa, há tempos não funcionam: estão mudas.

Técnico na área especialista no assunto há 10 anos, e diretor da consultoria Evolucomm, Costa calcula que 15% das linhas existentes no país são silenciosas. De acordo com a Anatel, o Brasil possui 256 milhões de linhas, o que contabiliza pelo menos 38 milhões de chips silenciosos, pelos cálculos e informações que ele detém.
Segundo ele, se todos estes chips fossem utilizados pelos seus proprietários, a rede de celulares entraria em colapso: "aí sim, seria o caos. Hoje ainda estamos distante desta situação. Não existe infraestrutura para absorver a quantidade de linhas que eles disponibilizam", enfatiza. Nas suas explicações, as próprias operadoras contam que 15% dos chips não serão utilizados: "elas colocam à venda uma quantidade maior".
A Anatel diz desconhecer a existência de chips mudos. Lembra, inclusive, que a lei determina que para ativar um chip as empresas pagam uma taxa de R$ 26,83. A manutenção dessa "linha" custa 50% do valor de instalação. 
Estes valores, segundo Costa, não assustam as empresas. Elas os compensam através da tarifa VU-M, que recebem cada vez que uma ligação é feita para a sua "linha". Ou seja, os celulares pré-pagos, por exemplo, já rendem mesmo sem falarem, apenas recebendo chamadas.
"Funciona assim: a operadora que recebe o telefonema ganha cerca de R$ 0,54 por minuto, que são pagos pelo operadora que faz a ligação. Vale muito a pena ter uma grande parcela de clientes pré-pagos, pois estes são aqueles que mais recebem ligações, o que aumenta a arrecadação destas empresas, compensando o pagamento dos chips silenciosos", explica. 
A Anatel exige a “Limpeza da base de clientes inativos” anualmente. Mas, segundo Costa, este tipo de descredenciamento de clientes não interessa às operadoras. 
"Estes números aumentam a carta de clientes, que é utilizada em diversas estratégias de marketing das companhias", diz. Outro exemplo de marketing é a atração por clientes pré-pagos com a estratégia de ligações ilimitadas para a própria operadora e Internet ilimitada a R$0,50 por dia, que elas estão ofertando na disputa por clientes. O ganho fica nas ligações recebidas por estes aparelhos quando partem de outras operadoras.  
O especialista ainda alerta sobre outros números, como a necessidade de se fazer uma ligação de 5 a 10 minutos para a ativação dos chips de pessoa jurídica, o que já compensa os valores pagos à Anatel. "Os vendedores sempre oferecem chips de graça para uma empresa que faz a compra de uma conta grande, pois eles vão lucrar muito com a recepção das ligações destas linhas extras", adverte. 
TIM
Ao participar de uma reunião da diretoria regional sul da TIM, Costa descobriu que de 18% a 20%, cerca de 13 milhões de linhas, da planta de clientes da companhia é constituída por chips silenciosos. A empresa ainda é a maior em número de clientes pré-pagos do Brasil, com cerca de 85% de sua clientela nesta espécie de conta.
"A expansão das operadoras no Brasil se deve muito pela taxa VU-M. A maioria dos chips pré-pagos são utilizados apenas para receber, os valores dos chips silenciosos acabam diluídos. A maioria ainda é utilizada algumas vezes antes de ser 'aposentada'", afirma. "A Anatel pretende diminuir o valor da VU-M gradativamente até 2014, chegando ao valor de 0,42 por minuto neste ano".
A assessoria de imprensa da Tim nega tais informações:
“Segundo dados da Anatel, o Brasil terminou Junho/12 com 256 milhões de celulares, com 130,44 de teledensidade (número de telefone celulares para cada cem habitantes). O elevado número de acessos móveis tem levado a Agência Reguladora a tomar medidas que visam o aumento de números de telefones.”, diz o comunicado da empresa enviado ao Jornal do Brasil. “Diante desse cenário, não há a possibilidade de retenção de simcards "mudos" na base da TIM. Freqüentemente, a TIM realiza uma limpeza em sua base, retirando do mercado os chips que não recebem recargas há, pelo menos, 90 dias”.
Suspensão
Nesta segunda-feira (23), iniciou-se a suspensão de venda de novos serviços em 19 unidades da federação imposta pela Anatel à TIM.  A Justiça Federal negou o pedido da operadora que, em mandado de segurança, tentou derrubar a decisão da agência. 
Como reflexo, os ativos ordinários e preferenciais da Tim recuaram 051% e 2,58%, respectivamente, ampliando as perdas da empresa no mês. Os papéis ordinários e preferenciais da Oi recuaram 2,42% e 2,09%.
Somente os papéis ordinários da Vivo, única grande operadora que não foi punida com a suspensão da venda de seus serviços, tiveram alta, de 1,09%, na sessão. Mas, paralelamente, seu ativos preferenciais caíram1,48%. 

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