A mulher de Carlinhos Cachoeira,
Andressa Mendonça, pode estar agindo como membro da organização criminosa do
bicheiro, afirmaram na tarde desta segunda-feira, em Goiânia, os procuradores Daniel
de Resende Salgado e Léa Batista de Oliveira. "A nossa desconfiança é de
que ela passou a ser uma mensageira do 'capo' do grupo criminoso organizado, do
Carlos Augusto Ramos", disse Daniel Salgado. "É plenamente possível
ele (Cachoeira) comandar (a organização) mesmo preso, através dela e de outras
pessoas", completou Léa, em entrevista coletiva.
Andressa
teve de prestar depoimento na Polícia Federal hoje, sob suspeita de chantagear
o juiz do caso da operação Monte Carlo, Alderico Rocha Santos, oferecendo
livrá-lo da publicação de um dossiê na revista Veja.
Os procuradores admitiram o objetivo de "frear o fluxo de
informações" no pedido para que a Justiça decretasse medida cautelar
impedindo a mulher de Cachoeira de manter contato com outros membros da
quadrilha do bicheiro.
"Ela também está impedida de
estar no prédio da Justiça Federal e de ter contato com o juiz", disse
Daniel. Os representantes do Ministério Público Federal (MPF) tentam, em grau
recursal, restabelecer a prisão provisória e revogar a soltura dos outros réus,
pelo mesmo motivo. Sobre a fiança de R$ 100 mil que Andressa terá que pagar, o
procurador foi irônico: "É um quinto daquilo que ela teria gastado para
decoração da residência dela", disse.
Léa Batista confirmou que Andressa já
está sendo investigada por suspeita de atuar como laranja de Cachoeira em pelo
menos um negócio, envolvendo a compra de uma fazenda entre Luziânia e Santa
Maria, a 100 km de Brasília e orçada em R$ 22 milhões. "Requisitamos
abertura de inquérito na quarta-feira, mas, como está sob investigação, não
podemos fornecer maiores detalhes", disse. Hoje, após a suposta chantagem
ao juiz, o MPF pediu a instauração de outro inquérito, agora para apurar o
crime de corrupção ativa por parte de Andressa.
Segundo os procuradores, as
investigações já haviam encontrado indícios de que Andressa sabia das
atividades do grupo de Cachoeira. "Havia algumas informações nesse
sentido, mas que não estavam ainda claras. Conseguimos, a partir das buscas e
apreensões, desvelar um pouco mais a potencial participação dela no grupo e, a
partir daí, foi requisitada a abertura de inquérito policial", disse
Daniel. O MPF também investiga se há bens no nome de Andressa que são
incompatíveis com a renda pessoal dela.
Carlinhos
Cachoeira
Acusado de comandar a exploração do
jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na
Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos
após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então
ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na
Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto
esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.
Escutas telefônicas realizadas
durante a investigação da PF apontaram diversos contatos entre Cachoeira e o
senador Demóstenes Torres (GO), então líder do DEM no Senado. Ele reagiu
dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios
legais, confirmou amizade com o bicheiro, mas negou conhecimento e envolvimento
nos negócios ilegais de Cachoeira. As denúncias levaram o Psol a representar
contra Demóstenes no Conselho de Ética e o DEM a abrir processo para expulsar o
senador. O goiano se antecipou e pediu desfiliação da legenda.
Com o vazamento de informações do
inquérito, as denúncias começaram a atingir outros políticos, agentes públicos
e empresas, o que culminou na abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito
(CPI) mista do Cachoeira. O colegiado ouviu os governadores Agnelo Queiroz
(PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás, que negaram
envolvimento com o grupo do bicheiro. O governador Sérgio Cabral (PMDB), do Rio
de Janeiro, escapou de ser convocado. Ele é amigo do empreiteiro Fernando
Cavendish, dono da Delta, apontada como parte do esquema de Cachoeira e maior
recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos.
Demóstenes passou por processo de
cassação por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética da Casa. Em 11
de julho, o plenário do Senado aprovou, por 56 votos a favor, 19 contra e cinco
abstenções, a perda de mandato do goiano. Ele foi o segundo senador cassado
pelo voto dos colegas na história do Senado.
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