Cápsulas em gel são
capazes de substituir transplante fecal, diz médico.
Análise de 27 pacientes com 'Clostridium difficile' teve bons resultados.
Especialista em doenças infecciosas Thomas Louie mostra cápsulas em gel
contendo bactérias de fezes em seu laboratório em Calgary, Alberta, no Canadá.
Segundo ele, comprimidos poderiam substituir
transplantes fecais para tratar infecções intestinais graves (Foto: The Canadian Press, Jeff McIntosh/AP)
transplantes fecais para tratar infecções intestinais graves (Foto: The Canadian Press, Jeff McIntosh/AP)
Novas pílulas de gel contendo bactérias das fezes podem ajudar a tratar
infecções intestinais graves e substituir transplantes fecais no futuro,
segundo pesquisadores canadenses. Esses comprimidos contêm micro-organismos da
flora intestinal de pessoas saudáveis e foram testados com sucesso em 27
pacientes com infecção por Clostridium difficile que já haviam sofrido
pelo menos quatro ataques e recaídas e usado antibióticos fortes, sem
resultado.
Segundo o médico Thomas Louie, da Universidade de Calgary, em Alberta,
há um banco de doadores – geralmente parentes do doente – de onde as bactérias
"do bem" são retiradas, processadas em laboratório e embaladas em
cápsulas de gel triplamente revestidas, para que o conteúdo não se dissolva no
organismo até que chegue ao intestino.
"Não há fezes restantes, apenas bactérias das fezes. Essas pessoas
não estão comendo cocô, e não há arrotos com mau cheiro, porque o conteúdo não
é liberado até que ele esteja bem além do estômago", explica Louie.
As pílulas também precisam estar "frescas", para que não se
dissolvam em temperatura ambiente, já que seu teor de água pode romper o
revestimento de gel. Dias antes de o tratamento começar, os pacientes recebem
um antibiótico. Na manhã anterior à primeira ingestão, eles ainda fazem uma
lavagem no ânus, para que as bactérias normais possam então começar a agir no
intestino grosso.
Ao todo, são necessárias de 24 a 34 cápsulas, e nenhum dos pacientes
analisados teve recaída por Clostridium difficile depois disso.
Dois anos de sofrimento
Segundo a auxiliar de enfermagem aposentada Margaret Corbin, de 69 anos, seu problema durou dois anos e foi "horrível".
Segundo a auxiliar de enfermagem aposentada Margaret Corbin, de 69 anos, seu problema durou dois anos e foi "horrível".
"Pensei que eu estava morrendo. Que não podia comer. Toda vez que
eu comia ou tomava água, estava no banheiro. Nunca ia a lugar nenhum, ficava em
casa no tempo todo", lembra. A filha de Margaret foi sua doadora, e há
dois anos a aposentada de Calgary tomou as cápsulas. Desde então, tem se
sentido "perfeitamente bem".
Próximos passos
Agora, outros pesquisadores estão tentando descobrir quais bactérias podem combater o Clostridium difficile, para serem cultivadas em laboratório e administradas como probióticos em pílulas aos doentes, que não precisariam mais receber toda uma gama de bactérias.
Agora, outros pesquisadores estão tentando descobrir quais bactérias podem combater o Clostridium difficile, para serem cultivadas em laboratório e administradas como probióticos em pílulas aos doentes, que não precisariam mais receber toda uma gama de bactérias.
Para Louie, suas cápsulas têm potencial para ajudar outras pessoas – não
só as contaminadas por Clostridium difficile –, como pacientes
hospitalizados e vulneráveis a micro-organismos resistentes a antibióticos.
Além disso, especialistas de Minnesota, nos EUA, estão testando congelar
as fezes, pois esse método não mata as bactérias e pode ser transportado para
qualquer lugar até um paciente que precise das cápsulas.
500 mil infecções por ano nos EUA
Segundo médicos, 500 mil americanos por ano contraem infecções por Clostridium difficile, e cerca de 14 mil morrem. Esse micro-organismo provoca diarreia, cólicas e náuseas, muitas vezes incapacitando o indivíduo. Antibióticos potentes e caros são capazes de matar essa bactéria, mas acabam destruindo também as demais, que vivem no intestino e fazem bem. Isso deixa o intestino ainda mais suscetível a novos ataques inimigos.
Segundo médicos, 500 mil americanos por ano contraem infecções por Clostridium difficile, e cerca de 14 mil morrem. Esse micro-organismo provoca diarreia, cólicas e náuseas, muitas vezes incapacitando o indivíduo. Antibióticos potentes e caros são capazes de matar essa bactéria, mas acabam destruindo também as demais, que vivem no intestino e fazem bem. Isso deixa o intestino ainda mais suscetível a novos ataques inimigos.
Pesquisas recentes mostraram que transplantes de fezes podem restaurar o
equilíbrio da flora intestinal. Mas isso é feito por meio de procedimentos
invasivos e caros, como colonoscopia ou endoscopia.
http://g1.globo.com
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