A mulher de Antônio,
Luzinete, e a filha, Quezia, em frente ao Hospital Pedro Ernesto, em Vila
Isabel, mostram a foto dele Foto: Urbano Erbiste / Extra
Diabético, hipertenso e
com deficiência renal crônica, Antônio César dos Santos Victorio, de 54 anos,
morador de Austin, em Nova Iguaçu, está há dois meses internado no Hospital
Universitário Pedro Ernesto, da Uerj. Há duas semanas, os médicos comunicaram à
família que precisariam amputar a perna esquerda do paciente, em função de uma
ferida que não cicatrizava no calcanhar. Ontem, às 13h, após a cirurgia, ao
receber o pai na enfermaria, Quezia Pereira Victorio, de 21 anos, entrou em
desespero. Os médicos haviam amputado a perna direita, acima do tornozelo.
— A médica chegou
dizendo que a operação havia sido um sucesso. Mas quando olhei, fiquei sem
chão. Tinham amputado a perna errada. O ortopedista veio e disse para mim que
haviam passado para ele que era a perna direita, que era o que constava nos
exames de risco cirúrgico — conta Quezia. — O médico nos pediu muitas desculpas
e disse que assumiria o erro.
Em seguida, levaram
Antônio César novamente para o centro cirúrgico para amputar a perna esquerda.
A segunda operação teve início às 16h, de acordo com a mulher do paciente,
Luzinete Soares Reis Victorio, de 53 nos. Cerca de três horas e meia depois,
ele foi levado para a UTI da unidade de Vila Isabel.
— Meu marido se trata
no Pedro Ernesto há cerca de quatro anos. Os médicos que o acompanhavam na
nefrologia sabiam que o problema era na perna esquerda. Não sei como será nossa
vida agora. Terei que parar de trabalhar para cuidar dele — diz Luzinete, que é
empregada doméstica e, atualmente, sustenta a família.
Para Quezia, uma das
principais preocupações agora é como dizer ao pai que ele precisará, daqui em
diante, de uma cadeira de rodas.
— Nas últimas duas
semanas, conversei bastante com ele sobre a amputação. Ele estava mais
confortado porque sabia que receberia uma prótese e que poderia continuar a
andar. Não sei como dizer ao meu pai que ele nunca mais voltará a caminhar —
diz, muito emocionada, a jovem, que faz curso de técnica de enfermagem. — Estou
pedindo a Deus que conforte o coração dele, assim como está confortando o
nosso.
De acordo com Quezia, o
hospital escalou quatro seguranças para ficarem em volta da maca dele, na saída
do centro cirúrgico:
— Horas após a segunda
cirurgia, um médico conversou com a minha mãe e disse que o estado do meu pai é
grave. Mas ele sequer citou por que amputaram a perna direita.
Hospital vai apurar
A assessoria de
imprensa do Pedro Ernesto afirmou, por meio de nota, que o paciente apresentava
“infecção em ambos os membros inferiores, mais proeminente à esquerda”.
Segundo Quezia, seu pai
tinha uma lesão na perna direita, mas de menor gravidade:
— Os médicos nunca
disseram que seria necessário amputar a perna direita.
O hospital não explicou
por que a perna esquerda do paciente, com uma lesão grave, não foi amputada na
primeira cirurgia, mas apenas após as queixas da família.
A direção informou que
vai apurar as circunstâncias do procedimento, por meio de processo
administrativo.
LEIA A NOTA DO HOSPITAL PEDRO ERNESTO NA ÍNTEGRA
A Coordenação de
Assistência Médica do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE/UERJ) informa
que no tocante à operação cirúrgica a que foi submetido o paciente A.C.S.V., a
Unidade de Ortopedia prestou os seguintes esclarecimentos iniciais:
O paciente portador de
nefropatia crônica, diabetes, arteriopatia obstrutiva grave e infecção em ambos
os membros inferiores, mais proeminente à esquerda, com colonização por germen
multirresistente, evoluiu com quadro de septicemia, sendo realizada amputação
bilateral dos membros inferiores em nível infrapatelar, de forma sequencial.
Findo o procedimento o paciente foi encaminhado ao CTI Geral para a recuperação
pós-operatória, encontrando-se estável.
A Direção do Hospital
irá apurar formalmente as circunstâncias que deram ensejo ao procedimento
através de processo administrativo específico. Relatórios detalhados estão
sendo solicitados aos serviços envolvidos.
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