Funcionário de presidente da CPI combina pagar a
irmão de braço-direito de Cachoeira em telefonema
BRASÍLIA — Um assessor do senador Vital do
Rêgo (PMDB-PB), presidente da CPI do Cachoeira, foi flagrado conversando com um
integrante do grupo do bicheiro Carlinhos Cachoeira. Escuta telefônica feita
pela Polícia Federal com autorização judicial mostra o assessor, identificado
como Rui, marcando encontro com Francisco Marcelo Queiroga, que atuava junto à
quadrilha de Cachoeira. Ele tinha os telefones grampeados e é irmão de José
Olímpio Queiroga, um dos braços-direitos de Cachoeira.
Foram registradas pelo menos duas conversas,
a primeira em 13 de fevereiro deste ano, antes do início da CPI e da Operação
Monte Carlo da PF. Rui pergunta se Marcelo ligou para seu celular:
— Quando estou lá, não posso atender, não.
Marcelo cobra, então, pagamentos do assessor
de Vital:
— Vamos fazer o seguinte: fica bom para mim,
fica bom para você. Vê para mim quando você quer pagar isso aí. Você me dá dois
cheques, acabou. Tenho um cheque seu, eu já te passo. É tão pouco agora.
O assessor pede que Marcelo o encontre no
gabinete onde trabalha, no Senado. Este, que diz circular sempre pela Casa,
pergunta a que gabinete deve ir:
— Vital do Rêgo.
— Ricardo Rego?
— Vital do Rêgo. Mas você não precisa dizer
que está indo para lá. Fala que está indo falar com funcionário e dá meu nome.
No dia seguinte, a PF gravou nova conversa.
Rui diz que chegou tarde e pede para marcar outro encontro. Os dois ficam de conversar
após o carnaval.
Vital do Rêgo disse que hoje vai saber se o
funcionário citado nas gravações é o mesmo Rui que trabalha para ele.
— Se for, vou perguntar do que se trata essa
conversa. O Rui que eu conheço me presta bons serviços, mas nunca me falou nada
disso — disse Vital.
Rui Brito Souza, assessor do senador,
reconheceu ontem à noite ao GLOBO que é amigo de Marcelo, mas que não sabia da
ligação dele com Cachoeira. Afirmou que pediu dinheiro emprestado e, por isso,
falam na conversa em “descontar cheques”. Rui disse que tem “outras atividades
fora” do Senado, como consultor em rádio e TV.
— Ele (Marcelo) é meu amigo pessoal e chegou
a comentar comigo que o irmão tinha sido preso, mas contou que tudo ia ser
resolvido. Não comentei com o senador porque minha vida pessoal diz respeito a
mim — afirmou.
O senador contou que Rui acompanha tramitação
de projetos na área de telecomunicações e já trabalhava para o senador que o
antecedeu.
Ontem, Marcelo disse não se lembrar dessa
conversa, nem de Rui. Indagado sobre com quem costuma se relacionar no Senado,
disse que tem amigos por lá, com os quais pratica esportes.
Nas gravações, Marcelo demonstra ter o
controle do jogo, atividade que evita citar nos diálogos. Em 28 de fevereiro,
dia em que Cachoeira foi preso, numa conversa às 19h52m, ele parece discutir a
atividade e diz que o dia não foi bom na banca:
— Tá devagar. Voltando dos campos, mas tá
devagar. É geral.
No Espírito Santo, Marcelo e Olímpio foram
acusados, em 2004, de matar uma pessoa, que, cinco anos antes, teria roubado
objetos da casa dos Queiroga em Vila Velha. Marcelo chegou a ser preso, em
Vitória, acusado de desviar recursos do Banestes, que teria sido usado para
incrementar seu bingo.
Ele e os irmãos foram alvo da PF na operação
Monte Carlo. Seus irmãos foram presos.
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