Ele voltou a estudar e trabalha na produção de um livro sobre sua vida.
O americano Richard
Norris, que passou em 2012 por um transplante de face considerado um dos mais
extensos já feitos, comemora sua recuperação e sua nova vida pouco mais de um
ano após a cirurgia. O homem, que recebeu uma nova mandíbula, dentes e língua em
março de 2012, voltou a estudar e trabalha em um livro que conta a história de
sua vida.
Richard Norris em foto
de 18 de junho durante consulta ao psiquiatra que o acompanha após transplante
de face. Imagem foi divulgada nesta sexta-feira (28) (Foto: Patrick
Semansky/AP)
Richard atirou
acidentalmente contra seu rosto com uma arma de fogo em 1997, e até a cirurgia
vivia recluso. Durante o período, ele enfrentou a crueldade de estranhos, lutou
contra o vício em remédios e até pensou em suicídio. Agora, depois da cirurgia
e com uma recuperação considerada exemplar pelos médicos, ele diz que, se
pudesse voltar no tempo, talvez não apagaria o episódio de sua vida.
“Os mais de 10 anos de
horror que vivi me deram um grande conhecimento”, disse Norris à Associated
Press, em sua segunda entrevista após o transplante. “Isso colocou algumas das
melhores pessoas que conheço na minha vida”.
Aos 38 anos, ele
começou a fazer aulas pela internet em busca de um diploma em sistema da
informação e quer criar uma fundação para ajudar futuros pacientes de
transplante de rosto a bancar os gastos durante o tratamento. Ele também tem
trabalhado com um fotojornalista em um livro sobre sua vida que foi
recentemente finalizado, com o título “As duas faces de Richard”.
Ele espera que sua
história envie uma mensagem de esperança para pessoas em situações semelhantes.
Fotos mostram Richard
antes do acidente, após atirar contra si mesmo e a evolução depois de passar
pelo transplante de face (Foto: University of Maryland Medical Center e Pat
Semansky/AP)
Depois do acidente,
Richard ficou sem dentes, nariz e partes de sua língua. Ele podia falar e
identificar sabores, mas perdeu o olfato. Quando saía em público, normalmente à
noite, se escondia com uma máscara.
Ele passou por dezenas
de cirurgias para tentar recuperar sua face, mas eventualmente seu corpo chegou
a um limite. Foi quando um de seus médicos sugeriu um transplante de rosto.
O medico Eduardo
Rodriguez, que liderou a equipe que fez o transplante, já vinha trabalhando na
área há algum tempo. O time explicou todos os riscos, como a rejeição dos
tecidos, para todos os familiares. A mãe de Richard, Sandra, lembra do risco de
50% de seu filho morrer durante a cirurgia.
Os tecidos recebidos
por Richard eram de Joshua Aversano, um jovem de 21 anos morto após ser
atropelado. A família do doador não quis dar entrevistas, mas emitiu um
comunicado. “Somos gratos por saber que o legado de Joshua irá continuar
através das vidas das pessoas que ele foi capaz de salvar com a doação de
órgãos e tecidos”.
Richard contou que
conversa com a família do doador regularmente e os mantém atualizados sobre sua
vida e condições de saúde.
A cirurgia de 36 horas
sofrida por Richard ainda é considerada a mais extensa já conduzida na área de
transplante de face porque incluiu o transplante de dentes, mandíbula, parte a
língua e todo o tecido desde o couro cabeludo até a base do pescoço.
Richard terá que tomar
remédios contra a rejeição dos tecidos pelo resto da vida. O médico que fez a
cirurgia disse esperar que o transplante possa ter duração de 20 a 30 anos.
Enquanto isso, o americano que precisou reaprender a falar, comer e andar novamente, vai ajustando a vida aos poucos. Ele continua frequentando a terapia e viaja frequentemente para consultas médicas.
Mas a maior diferença
em sua vida é poder aparecer em público novamente sem se sentir observado e
excluído. “Infelizmente, as pessoas faziam comentários que nunca fariam a
alguém em uma cadeira de rodas, por exemplo”. “Quando eu estava desfigurado, me
surpreendia como as pessoas me encaravam. Agora, ninguém presta atenção. A não
ser que a pessoa me conheça pessoalmente, ninguém sabe que passei por um
transplante de face.”
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