Raimundo Arruda
Sobrinho passou 35 anos vivendo entre lixo, pobreza e poesias. Sábio e
sensível, ele conquistou a simpatia de Shalla, uma moradora de seu bairro e
conseguiu, com a ajuda dela, encontrar a família que deixou há mais de 50 anos
A página de Raimundo já
conta com mais de 40 mil likes e é um grande sucesso nas redes sociais.
Em uma cidade grande e
movimentada como São Paulo, não são poucas as histórias de vida que se cruzam a
todo o tempo. Parado em uma esquina qualquer da cidade, sentado em um banco de
uma praça ou perambulando pelas ruas que acompanham o passar infinito de
carros, estava Raimundo. Um senhor barbudo, com roupas de plástico e aparência
rude que, surpreendentemente, escrevia algumas das mais doces poesias da
capital paulista. Mais do que um mendigo, Raimundo era poeta e, graças ao poder
da internet, pode-se dizer que ele também é um homem de sorte.
O sonho de estudar em
São Paulo se transformou em um cantinho de lona no meio da praça
Há mais de 50 anos, um
jovem sonhador saiu da terra natal com um objetivo e alguns sonhos em mente:
Raimundo Arruda Sobrinho, então com 23 anos de idade, deixou a Tocantins de sua
família para estudar na capital do estado de São Paulo. Devido às várias
dificuldades financeiras, Raimundo foi jardineiro e vendedor de livros para
conseguir se sustentar quando, em 1979, sem opções, viu a rua como o único
local em que poderia morar. Ele, então, adotou o canteiro central da avenida
Pedroso de Morais, no bairro de Pinheiros e, no mesmo lugar, viveu por 19 anos
entre seus textos e poesias.
Vestido com sacos
pretos de lixo (porque ouviu dizer que a roupa normal de tecido cria fungos e
bactérias e o deixaria com mau cheiro), Raimundo cultivava cabelos compridos e
uma longa barba que lhe serviam como uma espécie de travesseiro. Ele dormia
sobre outros sacos plásticos e lonas que artesanalmente foi costurando até
formar uma espécie de “cabaninha” e passava boa parte do tempo sentado em um
banquinho de madeira com alguns escritos nas mãos.
Uma simples conversa
foi o grande passo para a mudança
Após anos no mesmo
lugar, invisível aos olhos indiferentes dos que passavam por ali, Raimundo teve
uma surpresa. Uma jovem chamada Shalla Monteiro decidiu olhar o morador de
outro modo e parou para conversar com ele. Foi a partir daquele momento que o
Raimundo da praça deixou de ser apenas um morador de rua para revelar o poeta
que havia dentro dele.
Após algumas conversas
com o senhor, Shalla descobriu que o velhinho sujo que morava na praça era
culto, conhecia literatura e música clássica. Ele falava com maestria das
centenas de livros que havia lido e ainda gostava de distribuir alguns poemas
que havia escrito para quem passasse por ele. Instigantes e reflexivas, as
“mini-páginas” que Raimundo assinava possuíam data de nascimento, número de
série e uma assinatura que dizia “O Condicionado”.
Ainda impressionada com
a inteligência e sensibilidade que se escondiam por baixo da sujeira e abandono
de Raimundo, Shalla decidiu criar uma identidade para ele, após ganhar um de
seus poemas. A moça criou, então, uma fanpage para o poeta no Facebook onde
suas cartas e poesias eram postadas e compartilhadas com outras pessoas. Os
poemas de Raimundo, a essa altura, já eram famosos pelo bairro.
O que aconteceu, cerca
de três semanas depois, foi surpreendente: as poesias de Raimundo não apenas
repercutiram e alcançaram grandes proporções, como também chegaram à família
que ele não via há mais de três décadas. Francisco Arruda entrou em contato com
Shalla por meio da página no Facebook e confirmou, após anos de procura, o que
já suspeitava desde que vira aquele endereço na internet pela primeira vez:
Raimundo era o irmão que ele tanto procurou.
Abra os olhos para os
Raimundos ao seu redor
A história
impressionante de Raimundo não apenas abre os olhos para os poderes e
benefícios incríveis que a internet pode fornecer, como também atenta sobre a
necessidade de comunicação e sensibilidade das pessoas para com o próximo.
Afinal, não é preciso ir até o outro lado do mundo para fazer o bem: a
solidariedade e a ternura podem ser exercidos no dia a dia, a caminho do
trabalho ou até mesmo naquela praça movimentada que fica na esquina da sua casa
e abriga um senhor de rua simples e calado - que pode ser um outro Raimundo com
alma de poeta perdido por aí.
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