Chegada de Caio Silva de Souza ao
Aeroporto do Galeão Gabriel de Paiva / Agência O Globo
RIO - Caio Silva de Souza,
suspeito de acender o rojão que matou o cinegrafista da Rede Bandeirantes
Santiago Ilídio de Andrade, chegou às 9h35m desta quarta-feira à Cidade da
Polícia, no Jacarezinho, na Zona Norte do Rio, acompanhado do advogado Jonas
Tadeu Nunes. Ele foi escoltado direto para a carceragem. Caio chegou ao
Aeroporto Internacional Tom Jobim, na Ilha do Governador, pouco antes das 9h.
Ele foi algemado e levado para a delegacia em um Logan prata, sob escolta da
Polícia Civil e da Polícia Federal.
Caio foi cercado e encontrado por
volta das 2h (3h no horário de Brasília) em uma pousada perto da rodoviária de
Feira de Santana, a cerca de cem quilômetros de Salvador. Ele estaria fugindo
para a casa de parentes, em Ipu, no Ceará. Segundo a polícia, Caio não reagiu
ao ser preso.
A prisão foi efetuada pelo
delegado que investiga o caso, Maurício Luciano de Almeida e Silva, da Polícia
Civil do Rio, que estava acompanhado do advogado de Caio, Jonas Tadeu Nunes,
que também defende outro envolvido no caso, Fábio Raposo, que está preso no
Rio.
O chefe de Polícia Civil do Rio,
delegado Fernando Veloso, disse, no início da manhã desta quarta-feira, que a
polícia tem provas de que Caio Silva de Souza participou de outros atos de
violência durante manifestações no Rio:
- As imagens coletadas pela
polícia em manifestações comprovam de forma efetiva que o rapaz que soltou o
rojão participou de outros atos com emprego de violência - afirmou Veloso.
Segundo o chefe de Polícia, os
agentes da 17ª DP (São Cristóvão) estavam monitorando os passos de Caio mas os
planos foram mudados na última hora:
- Estávamos preparados para
prendê-lo em outra cidade, mas os planos foram mudados na última hora com a
intervenção do advogado de Caio. Ele pretendia se refugiar na casa do avô, no
Ceará.
Caio foi preso pelo delegado
Maurício Luciano, que foi para a Bahia com três agentes da 17ª DP. Segundo ele,
Caio foi indiciado por homicídio doloso com agravante do uso de artefato
explosivo e explosão.
- A polícia da Bahia foi acionada
e nos ajudou na prisão - disse Fernando Veloso.
O advogado de Caio, Jonas Tadeu,
disse que convenceu o auxiliar de serviços gerais a se entregar.
- Ele não foi preso, foi
convencido a se apresentar à polícia. Estava conversando com ele desde a manhã
desta terça e, depois que a prisão temporária foi decretada, eu o convenci a
interromper a viagem e se entregar à polícia.
Jonas afirmou que seus clientes
não são black blocs:
- Eles não pertencem a grupo
nenhum. Caio é um jovem miserável financeiramente, de baixo discernimento e com
ideais de uma sociedade melhor. Os dois, Caio e Fábio, são jovens aliciados,
manipulados. Eles foram municiados com o rojão - disse o advogado, não
revelando, porém, quem aliciou os jovens.
Jonas disse que conversou
longamente com Caio por telefone e antes da prisão. Afirmou que ele não tinha a
menor noção do risco de soltar o rojão:
- Foi um ato de
irresponsabilidade, não houve reflexão. Ele não sabia que aquele artefato era
um rojão. Achou que era um outro tipo de artefato. Queria apenas fazer barulho,
confusão. Jamais poderia imaginar que poderia causar uma lesão, muito menos
letal. Foi um ato de negligência, de irresponsabilidade.
Quando foi preso numa pensão de
Feira de Santana, Caio pouco falou. Estava abatido e só conversou com os
policiais na delegacia. Ele embarcou às 7h no Aeroporto Luiz Eduardo Magalhães
com destino ao Rio.
O Disque-Denúncia tinha divulgado
um cartaz pedindo informações sobre o paradeiro de Souza, que tem 23 anos e é
auxiliar de serviços gerais em uma empresa prestadora de serviço do Hospital
Rocha Faria, em Campo Grande, Zona Oeste do Rio.
O cinegrafista da TV Bandeirantes
Santiago Ilídio Andrade gravava imagens de uma manifestação contra o aumento
das passagens de ônibus no Centro do Rio, na quinta-feira, quando foi atingido
na cabeça pelo rojão. Ele teve morte cerebral na segunda-feira, depois de
passar quatro dias em coma no Hospital Souza Aguiar. Os órgãos de Santiafo
foram doados.
A prisão de Caio foi decretada na
noite de segunda-feira, mas o rapaz não foi encontrado em sua casa, em
Nilópolis, na Baixada Fluminense, nem no hospital, onde trabalha como porteiro.
No dia do protesto, na última quinta, Caio estava de folga.
O acusado tem duas passagens pela
polícia, como envolvido em ocorrências de tráfico de drogas: uma na 53ª DP (Mesquita)
e outra na 56ª DP (Comendador Soares), mas não tem anotações criminais. Ambos
os casos são de 2010. Num deles, policiais militares encontraram num terreno
perto de onde ele estava uma certa quantidade de cocaína e de crack. Segundo a
assessoria da Polícia Civil, a participação dele no crime não ficou comprovada.
Após prestar depoimento, o rapaz foi liberado. Há outros dois registros na
polícia em que Caio aparece como vítima de agressão: um feito em 2008; o outro,
no ano passado, quando ele disse ter sido agredido durante um protesto.
Na manhã de terça-feira, a
polícia divulgou a foto do acusado. À tarde, o mesmo foi feito com outra
imagem. A identificação foi possível com a ajuda do tatuador Fábio Raposo, de
22 anos, preso no domingo, acusado de ter passado o rojão para Caio. Fábio deu
a seu advogado, Jonas Tadeu Nunes, o nome de um rapaz que teria revelado a
identidade de Caio. Com isso, a defesa do tatuador espera que o preso receba o
benefício da delação premiada.
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