Fomos tratados como
burros, jumentos, ignorantes e toda uma sorte de ofensas impublicáveis
Em uma entrevista
coletiva, um jornalista tentou curtir com Tiririca e passou vergonha. Perguntou
se Tiririca tinha sido eleito por um milhão de nordestinos. Tiririca respondeu
que não. “Fui eleito por um milhão de abestado”. O jornalista, não satisfeito,
perguntou porque Tiririca não se candidatou no Nordeste. Ele responde: “No meu
Nordeste não tem abestado”.
O humorista, cantor e
palhaço conseguiu a façanha da reeleição para a Câmara Federal dentro de São
Paulo. Foi o segundo mais votado. A despeito disso, não foi poupado da onda de
preconceito que atinge os nordestinos nesta reta final da campanha eleitoral.
O episódio ilustra, de
forma exemplar, como o restante do Brasil ainda enxerga esta parte de cá deste
País continental.
E não é uma visão
pitoresca.
As redes sociais foram
inundadas nas últimas semanas por esta onda preconceituosa, movida pelo ódio e
arrogância de brasileiros dispostos a instalar um apartheid regional – onde,
obviamente, seriamos isolados na insignificância que eles juram nos pertencer.
Fomos tratados como
burros, jumentos, ignorantes e toda uma sorte de ofensas impublicáveis.
E esse rancor regional
não é pontual. Nem se esgota na sazonalidade eleitoral. Eu, por exemplo, sou
vítima histórica desse preconceito. Em São Paulo, mesmo ostentando a condição
de empresário, nunca deixei de ser tratado como um “Paraíba”.
Evidente que o momento
eleitoral, com seu potencial catalisador de paixões, expõe sem reservas a
extensão do preconceito que milhões de brasileiros nutrem em relação ao Nordeste.
Porém, insisto que as
disputas políticas só escancaram o que está latente na alma nacional. E
precisamos encarar este problema de frente.
Pois se há algo para o
Brasil se orgulhar é da capacidade secular de nos mantermos unidos, falando um
só idioma, respeitando nossas diferenças tão similares.
Enquanto ao redor do
globo nações infinitamente menores são separadas por culturas, políticas,
etnias, religiões e idiomas – que lhes impõem apartheids sociais quase
intransponíveis, no Brasil prospera uma inusitada – por seu caráter mistifório
- união.
Não podemos, portanto,
permitir uma versão tropical da Secessão. Somar, como temos feito desde o nosso
princípio republicano, sempre será a melhor operação matemática para o Brasil.
E o Nordeste, que vence
o descaso institucional histórico e progride como nova fronteira de
desenvolvimento, nunca somou tanto para o País.
Aliás, sempre somamos,
mesmo quando as desigualdades eram maiores.
Foi no Nordeste que
começou a história do País. Daqui expurgamos os holandeses e, por muitas vezes,
fomos convocados para lutar pela manutenção da nação.
Construímos aqui as
primeiras cidades do País (entre as quais João Pessoa) e parimos, para o País,
homens e mulheres que fizeram diferença – na política, ciência, economia,
literatura e artes.
Gente que nasceu em
berço nordestino e escreveu com sangue, suor e sabedoria capítulos expressivos
da história do País.
E se nada disse vale
para conter o ódio irracional contra os nordestinos, volto a cena com a astúcia
do palhaço, que testemunhando do seu picadeiro tanto pavor, voltou a carga:
“Eu fui um dos mais
votados dentro de São Paulo e eles estão chamando os nordestinos de burros. São
uns abestado mesmo!”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário