sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

MAIS UMA PROVA QUE O CRIME NÃO COMPENSA:'É preciso criar cotas para nós', diz preso de PE aprovado no Sisu


Henryton Ribeiro, 24, conquistou sétimo lugar em matemática na UFRPE. 

Condenado por assaltar agência dos Correios, ele diz merecer 2ª chance.

Henry conta os dias para sair da prisão e começar
as aulas na UFRPE (Foto: Luna Markman/G1)
Henryton Klysthenes Ribeiro estava animado com o aniversário de 24 anos. Planejava fazer uma rave para 'parar' a pequena cidade de Timbaúba, na Mata Norte de Pernambuco, distante cerca de 100 km do Recife. Ribeiro dava aulas particulares de matemática e inglês, vivia bem com os pais e a irmã mais velha e tinha vários amigos, mas também uma fraqueza: queria ganhar dinheiro fácil. Com dois colegas, resolveu assaltar a agência dos Correios de Aliança, município vizinho, apenas quatro dias antes da festa. Sabia que o sistema de segurança do local era frágil e acreditava na impunidade. No dia 6 de junho de 2012, o trio aproveitou a saída de almoço dos vigilantes e, fingindo estarem armados, roubaram dinheiro da agência, que estava em funcionamento e atendia alguns clientes no momento do crime. Os comparsas conseguiram fugir, mas ele acabou sendo preso em flagrante e a tão esperada data passou em branco, na prisão.

Foi no Presídio de Igarassu (PIG), na Região Metropolitana do Recife, onde cumpre pena, que o jovem, envergonhado e arrependido do crime, parou para pensar na vida que queria levar dali em diante. Inscreveu-se no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), formou um grupo de estudos com outros 16 reeducandos, todos já com o ensino médio completo, e fez a prova. O resultado no Sistema de Seleção Unificado (Sisu), que saiu na última segunda-feira (14), foi uma surpresa ainda maior: ele conseguiu a sétima posição no curso escolhido, a licenciatura em matemática, na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), com nota 706,29. Foi a melhor colocação de um reeducando em toda a história do sistema prisional do estado.

"É muito melhor ser reconhecido como alguém que venceu, pelo estudo, que como alguém que roubou, até porque eu não me considero um bandido, mas alguém que errou, aprendeu com isso e merece uma segunda chance. Pensei no dinheiro fácil, queria aventura, mas passei do limite e achei que tinha destruído a minha vida. Agora, ao invés de contar os dias para sair da prisão, vou contar os dias para começar as aulas. Vou embarcar em uma aventura bem melhor, e nessa quero ter sucesso", diz Henry, como é chamado pelos amigos do PIG.

À espera da liberdade
Henry é um preso provisório. Ele foi julgado pela 25° Vara da Justiça Federal e condenado a cinco anos de detenção. Ele está agora em regime fechado, em um presídio de segurança máxima.  A sentença dele ainda vai passar pela Vara de Execuções Penais, que deve encaminhá-lo para o regime semiaberto. O advogado dele entrou com pedido para desclassificar o crime para furto. A expectativa é que em abril, quando começam as aulas na UFRPE, Henry já possa cumprir a pena em regime aberto, tendo que assinar, todo mês, o livro de presença no Centro de Apoio a Egressos em Liberdade (Cael).
Henry estudava na biblioteva do presídio com 16 colegas, entre eles, Davi Airam (D), que está a menos de um ponto de conseguir uma vaga no curso de ciências biológicas, na UFRPE (Foto: Luna Markman/G1)
Isso porque Henry já está cumprindo parte da pena do regime fechado – ele chegou ao PIG em outubro de 2012 e ainda trabalha na área administrativa da unidade prisional. A cada três dias de trabalho, um dia é diminuído da pena total. "Por incrível que pareça, foi na prisão que tive tempo para pensar melhor no que eu queria ser. Fiz escola particular, onde era bolsista, fiz curso técnico em administração, mas era muito indeciso no que fazer, agora estou feliz porque passei no que eu sempre quis de verdade. No primeiro dia de aula, na Rural, se eu tiver que me apresentar, não vou ter vergonha nem esconder que já estive preso. Aprendi agora a não baixar a cabeça e vencer os obstáculos", conta.
Pensei no dinheiro fácil, queria aventura, mas passei do limite e achei que tinha destruído a minha vida. Agora, ao invés de contar os dias para sair da prisão, vou contar os dias para começar as aulas"
Henryton Ribeiro, preso aprovado na UFRPE

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