O senador e presidente
do PSDB Aécio Neves
Em depoimento na ação
movida pelo PSDB que pede a cassação da chapa Dilma-Temer, reeleita em 2014, o
ex-presidente da Andrade Gutierrez Otávio Marques de Azevedo confirmou ter se
encontrado naquele ano com o empresário Oswaldo Borges da Costa – ex-presidente
da Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig) no governo
de Aécio Neves (PSDB) – para tratar de doação eleitoral para a campanha
presidencial do tucano. O depoimento foi prestado em 19 de setembro ao ministro
do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Herman Benjamin, relator do processo.
Ao explicar sobre como
eram feitas as doações eleitorais da empreiteira ao ministro Benjamin, Otávio
foi indagado sobre repasses a partidos e políticos. Ele afirmou que todas as
doações eleitorais saíam do mesmo caixa da empresa e, em relação ao PSDB, disse
que se encontrou com Borges da Costa, apontado como “operador” ou “tesoureiro
informal” de Aécio.
Segundo dados
declarados à Justiça Eleitoral, a Andrade doou, em 2014, 21 milhões de reais
para a campanha de Dilma e 20 milhões de reais para a de Aécio. Oficialmente, o
coordenador financeiro de Aécio foi o ex-ministro José Gregori. Em nota, o PSDB
informou que Borges da Costa atuou na campanha daquele ano “apoiando o comitê
financeiro”.
“Fui procurado pelo
senhor Oswaldo Borges da Costa, também, que era… trabalhava não sei em que
função lá, com o candidato [Aécio Neves]. E, basicamente, essas demandas [de
doação] vinham por meio deles”, afirmou o empresário em depoimento do dia 19,
sem se lembrar qual outro nome ligado ao PSDB o teria procurado.
Questionado pelo
advogado Flávio Caetano, da campanha de Dilma, o executivo disse que só
encontrou o empresário uma vez e apenas para comunicar que teria feito uma
doação para a campanha de Aécio.
Apesar de ter doado
quantias próximas para as campanhas de Dilma e Aécio, ao TSE, Otávio disse que,
em relação às doações para o tucano, não havia nenhuma vinculação com obras ou
projetos da empresa. “Nenhum compromisso que levasse a uma doação… é… vinculada
a obra, a projeto, não existiu isso. Não existiu isso.”
Ele também reafirmou
que houve um acerto de propinas equivalente a 1% de todos os contratos da
Andrade com o governo federal e também com o PMDB e com o PT referente às obras
da Usina de Belo Monte. Questionado se as doações eleitorais de 2014 foram
descontadas desse acordo, ele negou e disse que apenas uma doação para Dilma,
no valor de R$ 1 milhão, em julho de 2014, “certamente” veio dos acordos de
propina.
Em nota, o PSDB
Nacional afirmou que Borges da Costa “atuou na campanha eleitoral do PSDB em
2014 – ao lado do senhor Sérgio Freitas e tendo sido o ex-ministro José Gregori
coordenador financeiro –, apoiando o comitê financeiro, sendo esse um fato de
amplo conhecimento público, não havendo nele nenhum tipo de incorreção”.
Segundo o partido, o empresário, em depoimento, “confirma a regularidade dos
contatos, assim como das doações realizadas, todas elas declaradas”.
O PT, também por meio
de nota, refutou as “ilações”. “Todas as operações financeiras do partido foram
realizadas estritamente dentro dos parâmetros legais”. Borges da Costa não foi
encontrado para comentar o assunto.
Troca de mensagens
Azevedo foi ouvido pelo
ministro do TSE depois que a Polícia Federal identificou mensagens trocadas
entre o o ex-presidente da construtora e Oswaldo Borges, em 2014, além de
conversas sobre valores destinados a uma associação presidida pela irmã do
senador Aécio Neves, Andrea Neves. Borges da Costa foi citado pelo empreiteiro
Leo Pinheiro, da OAS, em sua delação como intermediário de propinas na
construção da Cidade Administrativa, obra mais cara do governo Aécio – que
custou 1,2 bilhão de reais.
As trocas de mensagens
chamaram a atenção da PF ao analisar o celular de Otávio em 2015. Em uma
mensagem encaminhada no dia 27 de agosto, Borges da Costa pergunta ao
ex-presidente da Andrade se era possível “falar na quinta às 19h em SP”. Dois
dias depois, Otávio responde: “Já foi feito”. Borges da Costa agradece no mesmo
dia: “Obrigado Otávio. Com vc funciona!!!rsrs”.
(Com Estadão Conteúdo)